“DIRETAS JÁ”, SERÁ?

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Nas últimas semanas tem aparecido de forma mais enfática a pauta da defesa de eleições diretas, ainda em 2016, para a presidência e o congresso.

Essa demanda é bastante compreensível e legítima, tendo em vista toda a ilegalidade que ronda o governo Temer e o golpe que o originou – sobretudo se a concretização desta pauta surgir através de pressão das ruas. Entretanto, é sempre válido nos questionarmos: seria essa uma solução real e efetiva para os problemas que estamos enfrentando? E, ainda, seria a chamada por novas eleições a reivindicação mais urgente que temos que levantar?

De maneira muito pontual, devemos ressaltar quatro ataques principais bastante concretos e grotescos aos direitos sociais, que já se encontram em pauta e tramitação: a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a PEC 241 (que congela os gastos com serviços como saúde e educação) e os projetos de privatizações em massa.

Estas quatro “porradas na cara do/a trabalhador/a” caracterizam, de fato, questões que devem ter tratadas e enfrentadas em caráter de urgência. São elas que terão consequências práticas nas vidas de brasileiras e brasileiros, podendo ser aprovadas muito mais rápido do que se imagina.

Seria ingenuidade pensar que a única figura por trás destes projetos é o governo Temer. Acordos e rearranjos dos direitos sociais desta natureza já vêm sendo negociados há tempos por diversas forças que influenciam a política e a politicagem brasileira, como por exemplo, o setor do grande empresariado.

Mesmo que as palavras de ordem gritadas nas ruas por “Diretas Já” sejam legítimas, é fundamental considerarmos a possibilidade de cooptação da pauta pelos golpistas. Assim como fizeram com Cunha, Temer também pode ser descartado e transformado no novo bode expiatório da direita. 

Não podemos deixar que a força das ruas seja usada novamente contra o povo. Temer pode ser facilmente substituído por outra pessoa apta a aplicar medidas talvez até piores de ataques aos direitos sociais, legitimada pela encenação democrática das eleições diretas  e livre da acusação de golpe.

Vale também lembrar que eleições diretas,sem que haja uma ampla reforma política,tendem a ser uma grande roubada, já que os maiores financiadores de campanhas são os mesmos que financiaram o golpe.

Portanto, temos a convicção de que novas eleições não garantem que essas políticas retrógradas sejam barradas. Ainda que compreendendo a motivação dos/as que clamam por “Diretas Já”, acreditamos que é o momento de contratacar de forma prática, enfática e urgente todos esses ataques  aos nossos direitos. 

Se DIRETAS JÁ não resolvem nossos problemas, convocamos a todas e todos para aderirem a luta por  DIREITOS JÁ!

CONTRATAQUE!

FORA TEMER!

DIREITOS JÁ!

Por que gritamos “Fora Temer”?

Denunciamos a ilegitimidade do governo de Michel Temer por termos a convicção de que um novo golpe de estado ocorreu no Brasil no dia 31 de agosto de 2016, com o afastamento da presidenta eleita, Dilma Rousseff, sem que esta tenha cometido quaisquer crimes. Assim, quando gritamos “Fora Temer”, estamos deixando claro que não reconhecemos um plano de governo que chegou ao poder de maneira antidemocrática e com medidas que precarizam ainda mais a maioria da população, mas não paramos aí. Não nos iludimos com a ideia de que um “Volta Querida” resolveria os problemas que a população vem enfrentando.

Achamos ser, sim, importante defendermos a mínima, imperfeita e incompleta democracia que temos no Brasil; mais importante que isso, pensamos ser necessário protegermos nossos direitos sociais dos ataques que estes vêm sofrendo nos últimos anos. Acreditamos que essa proteção não se dará através da defesa de representantes ou partidos específicos, ou ainda com pautas genéricas como “fim da corrupção”: a única maneira real de defendermos a democracia e nossos direitos é através da pressão das ruas.

Nós nos sentimos chamadas/os à luta para resistir à retirada e, mais do que isso, exigir o AVANÇO dos direitos sociais. Acreditamos que nossa pauta principal deve estar focada nesses riscos concretos, que possuem 4 eixos principais: a PEC 241, a reforma da CLT, a reforma da previdência e as privatizações. Não defendemos a bandeira de nenhum partido, conscientes que no contexto desta crise, seja qual for o partido da situação, teremos que erguer uma dura e longa resistência à derrubada de direitos que os mais ricos querem propor através da atual agenda neoliberal. Não iremos pagar por essa crise!

Por isso, somamos às manifestações “Fora Temer”, já que esta é a figura que está implementando estas medidas no momento, mas clamamos por uma leitura crítica destas: pois Temer é apenas um agente descartável pelas forças que deram o golpe, e que pretendem implementar sua agenda de privatizações e de retrocessos nos direitos sociais. Diante da falência da democracia representativa, acreditamos que é somente na rua, nos locais de trabalho, nas escolas, nos bairros, nos organizando de maneira direta e coletiva, que poderemos não só barrar os ataques aos nossos direitos, como exigirmos muito mais.

Mais do que nunca, é necessário termos consciência de que a única forma de se promover mudanças reais é através de ação e organização da própria população.

DIREITOS JÁ! FORA TEMER!